quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sempre vale a pena




Toca o despertador. Confiro que horas são. Cinco da manhã. Eu ainda tinha esperança que algo tivesse dado errado, fosse apenas três da madrugada e eu teria mais duas horas de sono antes de acordar pra treinar. Penso que não seria o fim do mundo se eu dormisse mais cinco minutinhos. Lembro da última vez que dormi mais 5 minutinhos e acordei faltando cinco minutos para eu estar atrasado para o trabalho.

Saí da cama com a coragem daqueles que sabem que é apenas o começo e mesmo assim enfrentam e superam aquela imensa vontade de voltar para aquela cama quentinha. Olho pela janela. Ainda está escuro. O asfalto parece seco e minha última chance de voltar para a cama com uma justificativa nobre cai por terra. Não abro a janela, pois se está frio, eu prefiro não saber. Frio não é motivo para faltar em treino. Em todo caso, somo uma camiseta de manga comprida e uma jaqueta do tipo “corta-vento” ao shorts e camiseta de sempre.

Ser triatleta é um pouco diferente de ser apenas corredor. A diferença é que se você deixa de fazer um treino de corrida, bike ou natação na parte da manhã, você não tem como se redimir do treino perdido, pois tem outro treino de corrida, bike ou natação te esperando à noite. Ou seja, vale a velha máxima que diz “treino perdido, treino esquecido”.

Saio da garagem. Surpresa! Está garoando. Neste momento tenho absoluta certeza de que eu sou o único maluco da cidade que conseguiu vencer a cama, a preguiça, a escuridão do final da madrugada e dirijo em direção à USP. Duvido mesmo se meus treinadores estarão lá para passar o treino, porque treinar na chuva e no frio é coisa de maluco e, nem eles, treinadores, são tão malucos assim. Definitivamente, o maluco aqui sou só eu mesmo.

Chego à USP. Meio mau-humorado, pois vou ter que treinar sozinho e treinar sozinho de madrugada, com frio e molhado abala a fé de qualquer atleta, profissional ou amador. Chego ao ponto de encontro e qual não é minha surpresa? Está todo mundo lá. Meio quietos, sem muito entusiasmo, mas estão lá. Bando de malucos! Ainda bem. Achei que o único maluco era eu. Comecei a me sentir melhor.

Dez minutos de aquecimento. A garoa incomoda. O frio então, nem se fala. Alguém faz uma piada que esquenta o humor da equipe. Afinal, estamos lá e ninguém foi obrigado. Só nos resta treinar bem e nos divertirmos um pouco.

Acabado o aquecimento já não sinto frio. Para falar a verdade, a camiseta de manga comprida até me incomoda um pouco. Os músculos já aqueceram e começou a ficar gostoso. Mais uns vinte minutinhos e a tal da endorfina vai começar a fazer seu trabalho. Que bom! O legal da endorfina é que dá para confessar sua dependência e ainda assim continuar a ser visto como uma pessoa normal. Quer dizer, normal talvez não seja bem o termo.

O treino acaba. Uma hora e meia de esforço continuo. São sete horas da manhã e a maioria das pessoas que eu conheço ainda demoram uma meia hora para pensar em sair da cama. Sou tomado de uma já conhecida sensação de bem estar. Penso que valeu a pena e me lembro de muitas outras vezes em que me arrastei até o treino e saí de lá orgulhoso de mim mesmo. A sensação continua. Tenho certeza que meu dia será infinitamente melhor do que um dia que começasse com um treino perdido. Valeu a pena o esforço. Aliás, sempre vale!



Rodrigo Raso é Triatleta da equipe Butenas e diretor da agência Milk Comunicação Integral, empresa especializada em MKT Esportivo e Running.

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